quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quando a mentira engana a alma.

"Era como se Leslie se destacasse naquela multidão de pessoas bêbadas e drogadas. Como se o seu balançar me puxasse e me atraísse como se ela fosse composta inteiramente de campos magnéticos e eu, um simples pedaço de metal lutando contra aquele "chamar" dela. Algumas drogas e bebidas alcoólicas eu havia ingerido, mas isso não era desculpa para que eu me esquecesse de Jane. Jane era a minha namorada, mas, eu estava sendo atraída por outra garota completamente e exageradamente o oposto dela?
Resolvi sair e dar uma volta. Esfriar a cabeça. Pensar. Me consertar. Meus olhos estavam bem abertos, mas eu já não enxergava mais com eles. Então eu andei. Esbarrando na multidão de pessoas desconhecidas ao meu redor. Pisando no pé de crianças que brincavam por ali, me desculpando, falando sozinha. Pedi uma cerveja mas nem terminei de bebê-la. Dei ao primeiro humano de rosto familiar que encontrei.
E voltei pra multidão, eu queria fugir, mas a qualquer lugar que eu fosse, tornava-se desconhecido. Cabeça baixa, cabelo bagunçado, não fitava ninguém diretamente nos olhos. Eu tinha medo de fitar os olhos azuis e mergulhar tão profundamente neles a ponto de me afogar. Mas era em vão toda e qualquer tentativa de fuga.
Braços me puxaram para trás, fora revoltante no momento em que senti meu corpo andando sozinho, mas bem calmo ao ver rostos familiares sorrindo pra mim, me chamando pra perto. Meus amigos. Dançavam tanto que, apesar do frio, eles suavam como se estivessem debaixo do sol há dias. Resolvi, então, depois de muitos pedidos, dançar com eles. Digamos que eu era um tanto quando desengonçada pra isso, mas pelo o menos tentei. Eu estava quase me soltando, a batida comandando os movimentos do meu corpo, e eu ali, solta, me sentindo pela primeira vez em muito tempo, livre.
Balancei a cabeça pros lados, ela estava ali, intacta, com seu sorriso de porcelana e seus olhos azuis como as águas da Califórnia. Estendera a mão. Exitei. Observei meus amigos, estavam ocupados demais fazendo nada. Fitei-a de novo, exitando segurar naqueles dedos finos e gélidos.
▬ Vem comigo. - Ela disse com sua voz de veludo e língua presa. Eu estremeci.
▬ Vem! - Ela pedia, eu gostaria de negar, mas eu estava por um fio de vontade de sentir aquelas mãos de dedos finos e macios nas minhas mãos gélidas e pequenas. Eu segurei-a. E fui.

Logo menos eu me encontrava em um daqueles becos de cidade pequena, minhas costas batiam contra todas as paredes que haviam ali. Os lábios que outrora foram donos daquela voz aveludada que adentrava os meus ouvidos movimentavam-se contra os meus e a sua saliva quente misturando-se com a minha.
Minhas mãos percorreram todo e qualquer centímetro daquele corpo pálido, acariciando os cabelos louros, a nuca, o pescoço que agora encontrava-se arrepiado pelo meu toque. Nós nos separamos, os olhos azuis fitaram os meus, negros como besouros, e a voz de veludo retomara os lábios carnudos dela.
▬ Como se sente? - Ela disse em meio uma gargalhada totalmente sem graça. Eu sorri de lado, e dei de ombros.
▬ Me sinto... quebrando as regras, e você? - Respondi, a voz baixa mas totalmente clara. Desviei os olhos dos dela, encolhi os ombros.
▬ Me sinto preferida, fazendo você quebrar todas as regras.

Então ela me beijou novamente, um beijo lento e cheio de detalhes. Logo menos estávamos voltando pra multidão, com cara de quem estava apenas no banheiro fazendo necessidades. Bom, eu quebrei as regras mais uma vez, mas, quem eu seria se seguisse todas elas? Eu queria o som da batida balançando meu cérebro, meu coração palpitante... e a garota. Eu não poderia ficar com as duas ao mesmo tempo, mas quem poderia saber disso a não ser eu? Então, me reuni aos meus amigos novamente, me olhavam curiosos, mas eu consegui esconder o brilho que nascera nos meus olhos. Eu os fechei, deixei a música balançar o meu corpo, e, novamente, voltei a ser tudo aquilo que eu era antes de tudo. A rebelde sem causa. A errada. E mal exemplo. Ou apenas Emily Callaway, se preferirem me chamar assim. "