quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vem.

Talvez possamos dizer que as circunstâncias vez ou outra nos levam a caminhos dos quais eu não sei explicar muito bem onde fica e como se chega. Hoje eu acordei com uma vontade enorme de fazer as malas e caminhar o mundo, pra ver se acho a moça. Mochila nas costas e coração no peito, a alma guia, os olhos decoram cada passo dado, o corpo cansado mas mesmo assim continua.
Moça, hoje eu acordei com vontade de te olhar nos olhos e te fazer dormir.
Moça, diz que vai me receber de portas e portôes e braços abertos. Me diz que aí tem um lar e não só um projeto de arquitetura que deu certo. Diz que não tem chão pra gente voar - mesmo que seja só por dentro - me tira o fôlego, eu quase imploro.
Hoje eu acordei com vontade de cantar. Mesmo com essa voz desafinada, eu quis cantar, pra ver se daí, você ouve nem que seja um tom.

E eu te pergunto agora, moça, tens intenção de me fazer sorrir? É só dizer que sim, porque hoje eu acordei com uma vontade de fazer as malas e te encontrar, ver se te encontro em algum bar ou esquina, fila de cinema, no supermercado... Hoje eu quis te achar mesmo sendo uma miragem.
Eu vejo tiroteio na televisão, terremotos, avalanches... Isso não me assusta. Teriam mais audiência se estudassem as placas tectônicas que habitam dentro de mim e me fazem tremer. O tiroteio que não me acerta, pois eu me esquivo. A avalanche que não me engole, passa por mim e se vai.
É que hoje eu acordei com vontade de te dar flores roubadas do vizinho, do canteiro da lanchonete, das roseiras em volta da igreja. Eu acordei com vontade de gritar. Você pode me ouvir?
Eu acendo um cigarro, você toma um café gelado. Eu bebo uma cerveja, você prefere bebidas mais fortes. O filtro do meu cigarro é vermelho, o seu, por enquanto, me parece branco, tão claro. Nós temos pulmões bronzeados de nicotina e poluição. Nós temos um certo biotipo de alma capaz de esperar gerações para que possamos entender o por quê disso tudo.
Hoje eu acordei com uma vontade imensa de te olhar nos olhos, ouvir suas gírias estranhas e conhecer os seus gostos mais amargos. Moça, você sabe, o teu sotaque não combina nada com o meu, assim como suas unhas sempre coloridas enquanto as minhas - até hoje - estão sem cor. Seus joelhos são mais fortes que os meus. Você pratica esportes, eu curto o sedentarismo. Então me diga, tens intenção de me fazer sorrir?

Porque hoje eu acordei com vontade de esquecer de tudo, mas ouvi seu sussurrar bem no canto do ouvido, em sonhos, e você dizia: Vem.