quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Só quero é aparecer.

Vamos lá, não é tão fácil assim, eu sei, mas também não pode ser assim tão assustador. Longe, é o mesmo que dizer pra sempre ou nunca mais. Perto, é um pra sempre tão por perto que nos faz enlouquecer.
E eu só quero aparecer, fazer de mim e de você, um carnaval. Fazer de nós aquela música gostosa que a gente ouve milhões de vezes e não consegue decorar porque é grande e diferente demais pra entender. Mas não é só porque não se entende que deixa de ser real.
É real, e é bem grande. Quase que nem cabe em mim, acredita? Mas olha, me desculpa, hoje eu quero mesmo é aparecer. Aparecer em silêncio, e posso te contar? Eu quero aparecer pra você.
Vai, me nota, não é tão complicado assim, é a gente que complica. A gente complica mas nunca se esquece.
Vem, você também pode aparecer. Te dei o ingresso, vem acompanhar a minha escola de samba. Cê pode fazê-la brilhar.
Vem fazer meu carnaval, não importa se já passou o fevereiro, pode até ser dezembro, pode ser inverno, pode ser jamais, mas vamos esperar.
A avenida ta pronta, toda enfeitada, e a minha tv tá ligada, e você, onde é que tá? Pega um navio, um avião, se preferir vem de bicicleta caso não queira poluir o ar, mas vem. Vem que eu te espero, meus confetes estão bem guardados, as lantejoulas coladas em cada sorriso pra te dar.
Vem, é pra você brilhar. Ou seria melhor eu ir? É, talvez eu vá, talvez... Talvez? Que nada, eu já to indo, tô caminhando, então me espera no lugar que eu marcar.
As flores 'tão bonitas? E minha roupa, ta legal? Não sei o que eu faço com o cabelo, corto? Ou deixo pra lá? É, talvez ela nem vá ligar.
E os meus olhos decorados em paetê, será que vão agradar? Tô te avisando, se você não vir, vou te buscar. E o meu perfume, como tá? Ta cheiroso ou dá pro gasto? To bonito ou um bagaço? Ah, deixa estar, é carnaval, a gente pode passar, eu sei que a avenida esperou o ano inteiro só pra ver a festa começar.

Só pra gente contracenar.

Digamos que eu ainda seja um figurante do qual o papel não seja lá tão importante pra gente contracenar, mas eu ainda posso aparecer no fundo das filmagens da sua cena. Mas é assim, não é? É assim que todo ator começa. É dessa maneira que o figurante passa a contracenar com a atriz principal, e vejá só, pode até fazer a cena de romance no final das gravações pra fechar com chave de ouro.
Pra não mentir, eu já fui coadjuvante e nós contracenamos. Não foi lá uma cena bonita pra quem viu, mas pra quem decorou as falas sem nem ao menos ler o texto, ah, como foi bonito. Mas acho, às vezes, que não interpretei tão bem assim, não fui o personagem do qual todos esperavam que eu fosse. Quis ser eu mesma nessa cena, e acho que não gostaram tanto assim. Mas você foi você mesma, tão natural, real demais pra ser verdade pra mim. Eu não sei se gostaram da sua atuação, mas eu te levaria ao Oscar se minha indicação valesse alguma coisa.
Voltei a ser o figurante, você permaneceu protagonista pra mim. Daquelas com DRT e tudo mais. Tipo uma inspiração pros meus contos seja lá o quão banais eles sejam. Mas sabe, eu não entendo nada sobre essa coisa de atuação. Acho também que eu não sei fingir e nem guardar por tanto tempo um único roteiro. Acho que misturo os papéis que são dados a mim, e nesse misto de personalidades eu acabo me encontrando.
Não quero mais saber de mini séries, nem de novelas que acabam e aí, nunca sabemos o que aconteceu depois que o vilão e a mocinha ficaram juntos. Pra onde é que eles vão depois? Pra onde é que vai a história quando chega o final?
Também não quero filmes, e tampouco seriados, afinal, todos eles tem um fim. Não me contento com finais felizes ou não felizes, mas me contento com o que continua. Continua mesmo não andando ao lado da gente, continua mesmo que a gente caia no esquecimento.
Queria mesmo era escrever um livro que só acabasse quando eu morresse. Aí sim, acaba tudo, não é? Esse sim é o final do qual ninguém gosta, mas tem que aceitar. Já que não há outra cura pra isso, então, esse tipo de final eu aceito, mas os outros não.
Quero sim um final feliz, com beijos, abraços e tudo que há de bonito em uma história, mas quero finais felizes a cada por do sol e um capítulo novo a cada amanhecer. Só que demora, é longe. Longe o suficiente pra ser inalcansável fisicamente. Mas não há quem vá me dizer que a vida é assim e que o que tiver de ser, será. Não acredito muito nisso. Se fosse assim, esperaríamos e então, aquilo que nos faz bem acabaria chegando cedo ou tarde.
Mas não, tem que lutar. Aperfeiçoar, se é que me entendem. Mas eu espero. Espero que aquela produtora que andou te contratando me veja como um bom figurante, e quem sabe, me coloque num papel aceitável pra contracenar de novo com você, que é a minha estrela.












sábado, 8 de janeiro de 2011

Loucos?

Loucura: Ao modo de ver de muita gente, são pessoas insanas, descontroladas e agressivas. Pessoas que rasgam dinheiro e são capazes de comer lixo. Pessoas que nem ao menos sabem quem são.
Gente estranha, um andar diferente, modo de se expressar que sai do protótipo que a sociedade criou. Deficientes físicos e mentais. Pessoas que não sabem o que falar e mesmo assim falam procurando algum entendimento. Pessoas anormais.

Loucura²: Ao ver de muita gente, são pessoas da alma, pessoas que compreendem. Têm suas próprias crenças e encontram suas próprias verdades dentro de si. Pessoas felizes sem ao menos ter nada, apenas a própria presença.
Pessoas que sabem o verdadeiro valor das coisas e conseguem acreditar no mundo de um modo completamente diferenciado e -talvez- exótico ao ver de outras pessoas. Pessoas que sabem sorrir, que, por mais difícil que esteja a situação, encontram algo bom naquilo tudo e dá risada. Pessoas da alma e não somente do próprio corpo. Pessoas que sentem e não somente falam. Pessoas do silêncio que grita num som mudo que é capaz de ensurdecer o mundo inteiro.
Pessoas que sabem diferenciar um olhar de um modo de pensar ou agir; pessoas anormais.

Loucura³ (Ao meu ver): Não existe loucuras e nem anormalidades, somos normais dentro dos nossos padrões dos quais pertencem a somente nós e mais ninguém. O que há de errado ter um dedo a menos na mão ou um terço a mais de alma dentro de si? O que há de tão anormal em sermos normais a nós mesmos?
Não é errado ter um andar diferente ou uma língua presa. Também, não é nada anormal acreditar em coisas que não se pode ver. Não é errado nos medir interiormente e achar isso certo. Não é loucura de ninguém sentir-se lisonjeado em apenas viver.
O que mudaria no interior da pessoa se ela não tiver uma visão boa? Usando óculos ela seria alguém normal dentro de seus padrões sobre o que é correto ou não? Que diferença faz sentir-se feliz somente com o trabalho de abrir os olhos e ver o sol? Talvez se essa pessoa se privasse do que a faz bem, seria normal aos olhos da sua prisão?
Prisão sem grades, eu quero dizer. A prisão da qual todos nós estamos privados desde o dia em que nascemos. Alguns acham melhor se redimir, outros conseguem ser rebeldes e viver na liberdade que pertence apenas a eles, que somente eles podem encontrar.
Agora, penso que o livre arbítrio pertence a todos, mas a maioria das pessoas o usa de uma forma que não é boa apenas pra ela, mas para impressionar. Impressionar quem? Aquele padrão do qual a maioria das pessoas quer valorizar, que mostrar que segue as regras e, contudo, querendo se mostrar normal.
Pra mim, loucura é algo imaginário. Projetamos a loucura ao ver alguém para que nosso ego seja alimentado e, com isso, nos tornamos pessoas normais. Todas as pessoas são normais, e isso, cabe a cada uma delas enxergar e agarrar com força todas as suas verdades. Não há anormalidades, apenas grades que impedem que se enxergue com nitidez tudo aquilo que teimamos em não acreditar. É como um espelho sujo do qual esquecemos de limpar por pura preguiça.