quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quando a mentira engana a alma.

"Era como se Leslie se destacasse naquela multidão de pessoas bêbadas e drogadas. Como se o seu balançar me puxasse e me atraísse como se ela fosse composta inteiramente de campos magnéticos e eu, um simples pedaço de metal lutando contra aquele "chamar" dela. Algumas drogas e bebidas alcoólicas eu havia ingerido, mas isso não era desculpa para que eu me esquecesse de Jane. Jane era a minha namorada, mas, eu estava sendo atraída por outra garota completamente e exageradamente o oposto dela?
Resolvi sair e dar uma volta. Esfriar a cabeça. Pensar. Me consertar. Meus olhos estavam bem abertos, mas eu já não enxergava mais com eles. Então eu andei. Esbarrando na multidão de pessoas desconhecidas ao meu redor. Pisando no pé de crianças que brincavam por ali, me desculpando, falando sozinha. Pedi uma cerveja mas nem terminei de bebê-la. Dei ao primeiro humano de rosto familiar que encontrei.
E voltei pra multidão, eu queria fugir, mas a qualquer lugar que eu fosse, tornava-se desconhecido. Cabeça baixa, cabelo bagunçado, não fitava ninguém diretamente nos olhos. Eu tinha medo de fitar os olhos azuis e mergulhar tão profundamente neles a ponto de me afogar. Mas era em vão toda e qualquer tentativa de fuga.
Braços me puxaram para trás, fora revoltante no momento em que senti meu corpo andando sozinho, mas bem calmo ao ver rostos familiares sorrindo pra mim, me chamando pra perto. Meus amigos. Dançavam tanto que, apesar do frio, eles suavam como se estivessem debaixo do sol há dias. Resolvi, então, depois de muitos pedidos, dançar com eles. Digamos que eu era um tanto quando desengonçada pra isso, mas pelo o menos tentei. Eu estava quase me soltando, a batida comandando os movimentos do meu corpo, e eu ali, solta, me sentindo pela primeira vez em muito tempo, livre.
Balancei a cabeça pros lados, ela estava ali, intacta, com seu sorriso de porcelana e seus olhos azuis como as águas da Califórnia. Estendera a mão. Exitei. Observei meus amigos, estavam ocupados demais fazendo nada. Fitei-a de novo, exitando segurar naqueles dedos finos e gélidos.
▬ Vem comigo. - Ela disse com sua voz de veludo e língua presa. Eu estremeci.
▬ Vem! - Ela pedia, eu gostaria de negar, mas eu estava por um fio de vontade de sentir aquelas mãos de dedos finos e macios nas minhas mãos gélidas e pequenas. Eu segurei-a. E fui.

Logo menos eu me encontrava em um daqueles becos de cidade pequena, minhas costas batiam contra todas as paredes que haviam ali. Os lábios que outrora foram donos daquela voz aveludada que adentrava os meus ouvidos movimentavam-se contra os meus e a sua saliva quente misturando-se com a minha.
Minhas mãos percorreram todo e qualquer centímetro daquele corpo pálido, acariciando os cabelos louros, a nuca, o pescoço que agora encontrava-se arrepiado pelo meu toque. Nós nos separamos, os olhos azuis fitaram os meus, negros como besouros, e a voz de veludo retomara os lábios carnudos dela.
▬ Como se sente? - Ela disse em meio uma gargalhada totalmente sem graça. Eu sorri de lado, e dei de ombros.
▬ Me sinto... quebrando as regras, e você? - Respondi, a voz baixa mas totalmente clara. Desviei os olhos dos dela, encolhi os ombros.
▬ Me sinto preferida, fazendo você quebrar todas as regras.

Então ela me beijou novamente, um beijo lento e cheio de detalhes. Logo menos estávamos voltando pra multidão, com cara de quem estava apenas no banheiro fazendo necessidades. Bom, eu quebrei as regras mais uma vez, mas, quem eu seria se seguisse todas elas? Eu queria o som da batida balançando meu cérebro, meu coração palpitante... e a garota. Eu não poderia ficar com as duas ao mesmo tempo, mas quem poderia saber disso a não ser eu? Então, me reuni aos meus amigos novamente, me olhavam curiosos, mas eu consegui esconder o brilho que nascera nos meus olhos. Eu os fechei, deixei a música balançar o meu corpo, e, novamente, voltei a ser tudo aquilo que eu era antes de tudo. A rebelde sem causa. A errada. E mal exemplo. Ou apenas Emily Callaway, se preferirem me chamar assim. "

terça-feira, 17 de maio de 2011

16 dias de caminhada

Enquanto andava, cabisbaixa, me sentia caminhando em direção ao fim, mas essa caminhada se tornava cada vez mais difícil e cansativa, à medida que, a cada passo, meu coração ficava mais pesado.
Continuei andando e, quando mais perto do fim eu ficava, mais os meus pensamentos se embaralhavam. Então parei e me perguntei: E se eu quiser voltar?
Diante desta situação passei a deixar pedaços de nossas lembranças para marcar o caminho de volta e pensei: Quando eu voltar, SE eu voltar, eu as pego de volta e guardo em um lugar que só a gente conhece.
Parece que comecei a acelerar meus passos, por quê? Talvez eu não queira chegar lá, talvez eu não queira o fim, agora!
Continuei seguindo... Percebi que agora havia barulhos, mas eles me incomodam! Será que isso significa alguma coisa? Por que tudo tem que ter um significado? E por que não ter? Por que um sentimento nem sempre é sincero? Por que as mentiras? Por que não a sinceridade? Não seria mais fácil? Talvez não, mas nunca disseram que seria.
A verdade é que eu tenho medo das respostas dessas perguntas, afinal, quem não teme ao desconhecido?

Texto de: @caapero .

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Alma.

Há quem diga que as coisas são passageiras e há quem diga que é loucura acreditar que, de algum modo, o que é nosso nunca se vai completamente. Eu ando tendo os olhos cansados e quase completamente míopes, minhas costas andam doendo mais que o normal e minha pele envelhece a cada respiração. Meu coração se quebra a cada manhã, e às vezes, em vão, passo o dia todo consertando-o para que fique pelo o menos noventa e cinco por cento inteiro.
Pode ser que amanhã seja um dia bom, mas quem dirá que não será apenas um: Hello, who are you and it comes from? - Disso, eu já não tenho dúvidas, a vida anda me pregando peças das quais eu me enrosco só de imaginar em sair de cada armadilha.
A escrivaninha ainda continua como eu a deixei da última vez, toda bagunçada. O seu casaco descansando debaixo dos cobertores que me aquecem durante a madrugada fria. Why not come whole? Talvez seja pelo fato de faltar pedaço em todos nós. Somos, e sempre seremos, fragmentos do ser humano que fomos ao nascer. A vida desgasta a gente, e a gente perde a paciência com a vida.
Não é a sola dos sapatos em si, é a sola no pé que chega a ficar em carne viva de tanto caminhar sem destino algum. Eu caminho por caminhar, nunca pensei em parar em algum bar ou esquina, sempre sai com o intuito de encontrar com a minha solidão, seja ela numa dose de bebida ou na fumaça do cigarro que estou prestes a acender.
Ai eu paro e penso: E se eu me cansar de caminhar, ou, e se as minhas pernas cederem e não aguentarem mais o meu peso, que, apesar de pouco, ainda sim é um peso? Uma cadeira de rodas que suporta a alma seria uma boa idéia, mas acho que ainda não inventaram.
Se eu pudesse ser alguém agora, seria o maior inventor do século. Inventaria a máquina que apaga lembranças e substitui elas por ilusões das quais nos deixam calmos. Eu sei que é impossível, mas não tá pagando nada pra sonhar.
Talvez amanhã, ao amanhecer você me ligue, e eu apenas diga: Hello, i love a bit. - Mas talvez eu não diga nada e meu silêncio signifique: Why not get a little more? - É tudo uma questão da alma, não sei como ela vai acordar após seus sonhos dessa noite. Não entendo nada de mim, quem dirá, de almas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Menina bordada.


... E então eu cheguei ao ponto do qual um dia eu temi: O de não poder mais lutar contra tal sentimento e anseio daquilo que um dia desconheci. Mas eu te conheço tão bem, te quero tão bem que me esqueço dos dias em que eu já fui só. Só solidão, só vazio, nada.
Desde então, fugi. Corri o mais rápido que pude daquilo que é denominado: Amor. Daquilo que não há como ser explicado com palavras humanas e que, mesmo havendo uma explicação, eu não saberia usar a concordância das palavras diante da moça.
Mas olha, não haveria modos de explicar. Iria se tornar clichê se chegássemos e disséssemos o que o amor é. Não seria real se pudesse ser comparado a uma flor bem viva ou a um objeto, ele simplesmente existe até no mais sujo coração.
As borboletas no estômago trabalham nessa parte pra gente, porque, quando elas batem as asas e você as sente, pode crer que é real. Tão real a ponto de parecer mentira. Quando na realidade, você anda tão sonhador, tão contente que chega ao ponto de não saber se acordou ou ainda está dormindo. Vai ver eu te esperei por um bocado de tempo. Vai ver era da moça que eu sentia saudade, não era uma saudade só de mim.
Então eu deixo de lado e começo a sentir. Conforme o tempo passa as borboletas se rebelam ainda mais e não se cansam. O frio da barriga não me incomoda, nunca me incomodou. Ele me lembra que, lá longe, ela me espera. Ai eu sorrio e peço, quase imploro: Moça, por favor, cuida bem de mim.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Rio de Janeiro não continua lindo.

Hoje o Brasil foi palco de um espetáculo inédito chamado ódio. O coração do brasileiro há tempos não é mais tão tropical como costumava ser, e no lugar de turistas andamos recebendo cada vez mais policiamento e balas perdidas.
O Rio de Janeiro costumava ser lindo, cheio de Sol e de gente transitando pela praia, mas isso, hoje em dia, pode-se ser visto apenas nas telas das tv's onde as novelas só nos mostram o que menos existe.
Sangue de criança inocente fora derramado, crianças que estavam ali com um único propósito: Ser alguém melhor na vida. Pais e mães que beijaram o rosto de seus filhos antes de irem a escola e, ao invés de buscarem elas na mesma estão a caminho do IML retirar os corpos dos pequenos.
E aquele almoço, que talvez nem fosse o melhor almoço do mundo, do qual sentariam todos numa pequena mesa e conversariam sobre como havia sido o dia de cada um, foi trocado por dor e um vazio que jamais será preenchido.
Cadê aquela sociedade correta da qual todos dizem ser? E a segurança que prefere proteger políticos corruptos ao invés de crianças sem força alguma pra lidar com tal tragédia?
Pudera hoje, ser primeiro de abril e isso tudo resumir-se em apenas uma pequena peça pregada pelos jornalistas do país, mas não, é a realidade em que vivemos hoje em dia, da qual não temos segurança nem mesmo dentro de nossas casas.
Que a paz e o conforto entre na casa das famílias que, hoje, tiveram sem aviso um buraco cravado no peito, um buraco que dói e sangra mas ninguém vê. Não há curativos, é como perder um braço e nenhum braço mecânico ser bom o bastante para substituir o braço de carne e osso.
Que os políticos, ao invés de roubar do povo e comprar carros e sutians blindados pras suas esposas, coloquem segurança nas ruas das cidades do país. Que as pessoas sejam sensatas e não assassinas. Que isso nunca mais aconteça, porque não será sempre que o nosso "Super Homem" (O Policial que imobilizou o assassino) vai estar por perto. Ele não voa, e da próxima vez pode estar longe demais pra atender o próximo chamado.

sábado, 26 de março de 2011

Sinalização da rua dos sorrisos.

Felizmente, eu me senti segura. Haviam braços envolta de mim, um sorriso direcionado bem pra mim, um coração aberto pelo qual era convidativo pra que eu entrasse.
Entrei, desfiz as malas e logo fui me sentando. - Não saio daqui tão cedo. - Eu disse, uma certa afirmação saindo pelos meus lábios e olhos curiosos esperando algo como resposta.
Ela não precisou dizer nada, eu vi seus olhos, e eles, pelo que entendo de olhos, não mentiram pra mim. Sua alma alegrava-se na medida em que a minha abria espaço, o sorriso aumentava de acordo com os sinais transmitidos aqui e ali.
Eu estava feliz, era capaz de abraçar num espaço de tempo denominado: Pra sempre.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Barbantes e alguns sonhos filtrados.

Com um pouco de cipó, comecei a construí-lo. E eu vou falar baixinho para que ninguém descubra tais segredos. Vou dizer baixinho porque, bom, vocês entendem, são ossos do ofício e isso pertence a cada um de nós. Não importa se a cor for viva ou berrante, se for grande ou pequeno, bonito ou apenas aceitável, foi feito com as suas próprias mãos então se orgulhe, você não é apenas o desperdício de espaço que acha que é.
Depois vieram os barbantes. Coloridos, bem coloridos mesmo. Fiz um reggae juntando suas cores e comecei a dar os nós. Alguém sabe o significado dos nós? Eu não sei, mas significa algo pra mim.
Terminou? Bom, está na hora dos retoques finais. Algumas penas, uma ou duas sementes, e esta pronto. O passo final é sonhar.

É quase assim: Sonhe, deixe que os sonhos cheguem, sendo eles bons ou maus, permita que eles tomem conta de você, afinal, eles serão filtrados.
Eu construí meu próprio filtro, demorou, mas está pronto. Já posso sonhar, todas as noites eles são filtrados e chegam até mim como coisas boas. E bem, eu preciso agora agradecer. Você é o meu filtro dos sonhos, tão leve e cheia de cores que até me cega quando bate o vento e suas sementes se movem.
Sobrou um barbante, e fizemos algo como um anel. Tem gente que ri, eu apenas sorrio toda vez que o vejo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Não aceitaremos mais esse tal de exílio.

Pelas estatísticas de como se deve construir uma sociedade, estamos nós aqui, fora de qualquer argumento ou intenção de participar da mesma. O motivo: Somos diferentes.
Estamos do lado de cá, praticamente expulsos daquela sociedade politicamente correta e perfeita, mas não ligamos nem um pouco. Viveremos no exílio à aceitar regras, e isso é uma afirmação, não é apenas uma ameaça.
Querem travar uma guerra, vão em frente, nós não vamos lutar. Querem nos castigar? Continuem, não queremos revidar também.
É que esse protótipo de sociedade me dá náuseas, minhas entranhas se comprimem e eu me sinto fora do comum, mas, o que realmente é comum? Eu estou do lado de cá, não é? No exílio que construímos pelo simples fato de não querer seguir regras, então merecemos os acentos da frente.
Não é ousadia, isso se chama coragem. Se você tem coragem, cale a boca e não se mostre, ainda não é tempo. Mas se é um covarde com rédeas em seus olhos, certo, estude as estatísticas e continue nessa vida cheia de regras sobre o que você deve ou não fazer pra terem admiração por você.
Os ladrões de hoje em dia usam ternos e roupas de grife. Os mocinhos, bom, eles não enxergam, eles te julgam pela sua aparência, pelo seu modo de falar.
Você é negro? tatuado? Gay? Trans? Então erga a cabeça e tenha coragem, grite alto, liberte-se, você não precisa aceitar esse exílio que nos proporcionaram apenas por sermos diferentes. Olhe só, estamos todos sem algemas e com um sorriso no rosto, isso já não é o suficiente?
Bom, é que enquanto vocês nos encaram e enxergam pecado, quando eu me encaro no espelho eu me encho de orgulho, e o nosso ego já se satisfaz com o simples fato de podermos sorrir ao encontrar alguém como nós, alguém que tenha coragem.

terça-feira, 1 de março de 2011

Você perde as suas meias enquanto dorme?

Deixei, após acordar, um punhado de sonhos dentro do travesseiro. Quem sabe eu possa vasculha-los hoje ao anoitecer, caso falte tempo pra sonhar.
Joguei no lixo um bocado de dores que não me doem mais e taquei fogo na maior parte das ataduras que não me deixava sangrar. Cicatrizou.
Pedi um drink, mas tinha só veneno. - Uma porção de fritas, por favor? - Desculpe, mas só temos fígado crú. - Então beleza.
Tudo bem, já desisti. Vou me deitar e vasculhar por baixo das cobertas e ver se encontro as minhas meias. Eu ando perdendo as minhas meias enquanto eu durmo, isso deve ser perigoso, não posso perdê-las, nas minhas meias eu guardo coisas preciosas, tais como: Um bocado de lugares em que passei, alguns tropeços, pisei em vidro, molhei os pés e até tentei dançar. Bom, acho que estou numa situação bem grave se não conseguir achá-las.
Ei, Dona Moça da lavanderia, devolva as minhas meias sem lavar, não quero que o que há de bom guardado nelas escorra pelo ralo. Eu sei, pode ser que por um azar você decida lavá-las ou jogá-las fora, mas se ler essa mensagem antes de ligar a máquina de lavar, entre em contato, estou desesperada tentando me achar. Mas caso já tenha lavado essas meias, faça um favor, coloque um amaciante, ninguém sabe, mas ando áspera demais. Obrigada.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Minha Tv ainda insiste em funcionar.

Salve-se quem puder, e tente ao máximo se salvar aqueles que estão no fim da estrada. Pé na cova, tá pra morrer, não importa, o importante agora é se salvar.
Salvem-se, salvem-se de tudo aquilo que machuca. Salvem-se do amor, bloqueie, impeça, não deixe entrar. Fique louco, mas não fique louco por alguém, não adianta, não vale a pena.
Corra, corra o mais rápido que puder. Se esconda, há cavernas e becos escuros onde você não poderá ser encontrado. Fique atento.
Grite, grite o mais alto que puder, arrebente as cordas vocais mas o negue. Não aceite caridades, esqueça os carinhos e as cobranças, você sabe que no final é você que carrega todo o peso sozinho.
Feche os olhos, não olhe diretamente pra alma. Ignore-a, esqueça, saia a francesa, não deixe que ninguém perceba a sua retirada.
Brigue, brigue mesmo, dê um nocaute que jamais fora visto, golpeie, mate.

Mas se depois disso tudo, a sua Tv insistir em funcionar, não há o que fazer, apenas mude de canal.

Notas: Tv = sentimento, coração. / Mudar de canal = Viver coisas diferentes, se permitir.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A carta (Aquela que eu nunca enviaria)

Olá, eu queria te contar que já faz sol aqui dentro e os passarinhos cantam todas as manhãs me acordando com vontade de tomar um leite com Nescal ainda que eu esteja meio sonâmbula. Os dias andam correndo e eu não consigo ainda acompanhar. Eu tenho pernas pequenas e finas demais pra aguentar correr tanto quanto o tempo corre, se é que você me entende.
Mas olha, vou te contar a maior: Eu já consigo até sorrir. E a maior ainda maior é: É um sorriso pra mim.
Certo dia observei o céu, mas haviam fios e postes impedindo que eu tivesse uma visão limpa e clara das estrelas. Quem sabe se eu estivesse deitada em um campo aberto eu pudesse apreciar melhor aquela vista, e, até mesmo, ver algumas estrelas cadentes caindo?
Não sei se você sabe, mas há pessoas em nossas vidas que servem apenas de fios e postes. Não entendeu? Preste atenção: Há pessoas que nos impedem, e você sabe disso. Impedem de enxergar, de andar pra frente.
Do meu mundo, eu sei bem sobre ele, e isso já está de bom tamanho. Não preciso de rodas gigantes e tampouco de uma montanha russa pra sentir o sangue ferver e se acalmar. Eu preciso mesmo é do vento. Ele é fantástico, não acha? É invisível, mas tem o poder de tocar. Refresca e também faz sentir frio, mas não deixa de ser fantástico.
E bom, você quer saber da maior? Aqui vai: Pude descobrir isso tudo sozinha, enquanto você se fazia de poste na minha frente tentando tampar os meus olhos. Deixe de ser um poste e mecha-se, antes que eu pegue todas as estrelas cadentes e as guarde somente pra mim.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Um passeio de Titanic.

Eu nunca entendi e tampouco tentei compreender o fato - mesmo estando em meio a uma multidão - do quão sozinha eu me sentia.
Busquei pela presença do presente que poderia se estender até um futuro talvez incerto, mas incerto sou eu, tão inconstante e confusa.
Baixei os olhos e fitei meus próprios pés, percebi o quão pequenos eles eram pra tanta caminhada.

Pude perceber logo, antes daquele "tarde demais" que os meus olhos já não são os mesmos, que a minha pele envelhece a cada dia enquanto fios de cabelos caem dando lugar a outros fios que vão nascer.
Senti-me com frio, mas estava calor. Olhei pro lado de dentro e bati de frente, antes mesmo que eu pudesse me desviar, num Iceberg que me racharia ao meio e me afundaria naquelas águas gélidas do oceano que corre em minhas veias.
Talvez eu pudesse me segurar num pedaço qualquer de gelo quebrado que flutua sob mim, mas era escorregadio demais, gelado demais, intenso demais para que eu fosse capaz de agarrar com força e me salvar da hipotermia.

Tem.

Tem muito abraço pra pouco braço

Tem muito coração pra amor nenhum.

Tem gente querendo guerra

Tem paz que esquece pra que serve.

Tem som demais pra pouca música

E música demais pra instrumento algum.

Tem mentira demais pra enganar.

Tem verdades demais pra ser dita.

Tem medo demais quando fica escuro

E pouca coragem pra travar uma luta.

Tem gente demais pra pouco espaço no mundo

Tem espaço demais aqui dentro pra alguém nenhum.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

oni+presente.

E aí, depois de muito tempo procurando por aquilo que era limitado e se disfarçava de raro
pude então, encontrar o verdadeiro significado daquilo que é onipresente

o.ni.pre.sen.te
adj m+f (oni+presente) 1 Presente em toda parte; ubíquo.

Foi aí que pude entender que, por mais que eu pegasse carona no banco traseiro de outros corações
havia algo sentado ao meu lado me acompanhando aonde quer que eu fosse,
estava em todo lugar, fugia ao meu lado quando eu resolvia fugir daquilo.



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Só quero é aparecer.

Vamos lá, não é tão fácil assim, eu sei, mas também não pode ser assim tão assustador. Longe, é o mesmo que dizer pra sempre ou nunca mais. Perto, é um pra sempre tão por perto que nos faz enlouquecer.
E eu só quero aparecer, fazer de mim e de você, um carnaval. Fazer de nós aquela música gostosa que a gente ouve milhões de vezes e não consegue decorar porque é grande e diferente demais pra entender. Mas não é só porque não se entende que deixa de ser real.
É real, e é bem grande. Quase que nem cabe em mim, acredita? Mas olha, me desculpa, hoje eu quero mesmo é aparecer. Aparecer em silêncio, e posso te contar? Eu quero aparecer pra você.
Vai, me nota, não é tão complicado assim, é a gente que complica. A gente complica mas nunca se esquece.
Vem, você também pode aparecer. Te dei o ingresso, vem acompanhar a minha escola de samba. Cê pode fazê-la brilhar.
Vem fazer meu carnaval, não importa se já passou o fevereiro, pode até ser dezembro, pode ser inverno, pode ser jamais, mas vamos esperar.
A avenida ta pronta, toda enfeitada, e a minha tv tá ligada, e você, onde é que tá? Pega um navio, um avião, se preferir vem de bicicleta caso não queira poluir o ar, mas vem. Vem que eu te espero, meus confetes estão bem guardados, as lantejoulas coladas em cada sorriso pra te dar.
Vem, é pra você brilhar. Ou seria melhor eu ir? É, talvez eu vá, talvez... Talvez? Que nada, eu já to indo, tô caminhando, então me espera no lugar que eu marcar.
As flores 'tão bonitas? E minha roupa, ta legal? Não sei o que eu faço com o cabelo, corto? Ou deixo pra lá? É, talvez ela nem vá ligar.
E os meus olhos decorados em paetê, será que vão agradar? Tô te avisando, se você não vir, vou te buscar. E o meu perfume, como tá? Ta cheiroso ou dá pro gasto? To bonito ou um bagaço? Ah, deixa estar, é carnaval, a gente pode passar, eu sei que a avenida esperou o ano inteiro só pra ver a festa começar.

Só pra gente contracenar.

Digamos que eu ainda seja um figurante do qual o papel não seja lá tão importante pra gente contracenar, mas eu ainda posso aparecer no fundo das filmagens da sua cena. Mas é assim, não é? É assim que todo ator começa. É dessa maneira que o figurante passa a contracenar com a atriz principal, e vejá só, pode até fazer a cena de romance no final das gravações pra fechar com chave de ouro.
Pra não mentir, eu já fui coadjuvante e nós contracenamos. Não foi lá uma cena bonita pra quem viu, mas pra quem decorou as falas sem nem ao menos ler o texto, ah, como foi bonito. Mas acho, às vezes, que não interpretei tão bem assim, não fui o personagem do qual todos esperavam que eu fosse. Quis ser eu mesma nessa cena, e acho que não gostaram tanto assim. Mas você foi você mesma, tão natural, real demais pra ser verdade pra mim. Eu não sei se gostaram da sua atuação, mas eu te levaria ao Oscar se minha indicação valesse alguma coisa.
Voltei a ser o figurante, você permaneceu protagonista pra mim. Daquelas com DRT e tudo mais. Tipo uma inspiração pros meus contos seja lá o quão banais eles sejam. Mas sabe, eu não entendo nada sobre essa coisa de atuação. Acho também que eu não sei fingir e nem guardar por tanto tempo um único roteiro. Acho que misturo os papéis que são dados a mim, e nesse misto de personalidades eu acabo me encontrando.
Não quero mais saber de mini séries, nem de novelas que acabam e aí, nunca sabemos o que aconteceu depois que o vilão e a mocinha ficaram juntos. Pra onde é que eles vão depois? Pra onde é que vai a história quando chega o final?
Também não quero filmes, e tampouco seriados, afinal, todos eles tem um fim. Não me contento com finais felizes ou não felizes, mas me contento com o que continua. Continua mesmo não andando ao lado da gente, continua mesmo que a gente caia no esquecimento.
Queria mesmo era escrever um livro que só acabasse quando eu morresse. Aí sim, acaba tudo, não é? Esse sim é o final do qual ninguém gosta, mas tem que aceitar. Já que não há outra cura pra isso, então, esse tipo de final eu aceito, mas os outros não.
Quero sim um final feliz, com beijos, abraços e tudo que há de bonito em uma história, mas quero finais felizes a cada por do sol e um capítulo novo a cada amanhecer. Só que demora, é longe. Longe o suficiente pra ser inalcansável fisicamente. Mas não há quem vá me dizer que a vida é assim e que o que tiver de ser, será. Não acredito muito nisso. Se fosse assim, esperaríamos e então, aquilo que nos faz bem acabaria chegando cedo ou tarde.
Mas não, tem que lutar. Aperfeiçoar, se é que me entendem. Mas eu espero. Espero que aquela produtora que andou te contratando me veja como um bom figurante, e quem sabe, me coloque num papel aceitável pra contracenar de novo com você, que é a minha estrela.












sábado, 8 de janeiro de 2011

Loucos?

Loucura: Ao modo de ver de muita gente, são pessoas insanas, descontroladas e agressivas. Pessoas que rasgam dinheiro e são capazes de comer lixo. Pessoas que nem ao menos sabem quem são.
Gente estranha, um andar diferente, modo de se expressar que sai do protótipo que a sociedade criou. Deficientes físicos e mentais. Pessoas que não sabem o que falar e mesmo assim falam procurando algum entendimento. Pessoas anormais.

Loucura²: Ao ver de muita gente, são pessoas da alma, pessoas que compreendem. Têm suas próprias crenças e encontram suas próprias verdades dentro de si. Pessoas felizes sem ao menos ter nada, apenas a própria presença.
Pessoas que sabem o verdadeiro valor das coisas e conseguem acreditar no mundo de um modo completamente diferenciado e -talvez- exótico ao ver de outras pessoas. Pessoas que sabem sorrir, que, por mais difícil que esteja a situação, encontram algo bom naquilo tudo e dá risada. Pessoas da alma e não somente do próprio corpo. Pessoas que sentem e não somente falam. Pessoas do silêncio que grita num som mudo que é capaz de ensurdecer o mundo inteiro.
Pessoas que sabem diferenciar um olhar de um modo de pensar ou agir; pessoas anormais.

Loucura³ (Ao meu ver): Não existe loucuras e nem anormalidades, somos normais dentro dos nossos padrões dos quais pertencem a somente nós e mais ninguém. O que há de errado ter um dedo a menos na mão ou um terço a mais de alma dentro de si? O que há de tão anormal em sermos normais a nós mesmos?
Não é errado ter um andar diferente ou uma língua presa. Também, não é nada anormal acreditar em coisas que não se pode ver. Não é errado nos medir interiormente e achar isso certo. Não é loucura de ninguém sentir-se lisonjeado em apenas viver.
O que mudaria no interior da pessoa se ela não tiver uma visão boa? Usando óculos ela seria alguém normal dentro de seus padrões sobre o que é correto ou não? Que diferença faz sentir-se feliz somente com o trabalho de abrir os olhos e ver o sol? Talvez se essa pessoa se privasse do que a faz bem, seria normal aos olhos da sua prisão?
Prisão sem grades, eu quero dizer. A prisão da qual todos nós estamos privados desde o dia em que nascemos. Alguns acham melhor se redimir, outros conseguem ser rebeldes e viver na liberdade que pertence apenas a eles, que somente eles podem encontrar.
Agora, penso que o livre arbítrio pertence a todos, mas a maioria das pessoas o usa de uma forma que não é boa apenas pra ela, mas para impressionar. Impressionar quem? Aquele padrão do qual a maioria das pessoas quer valorizar, que mostrar que segue as regras e, contudo, querendo se mostrar normal.
Pra mim, loucura é algo imaginário. Projetamos a loucura ao ver alguém para que nosso ego seja alimentado e, com isso, nos tornamos pessoas normais. Todas as pessoas são normais, e isso, cabe a cada uma delas enxergar e agarrar com força todas as suas verdades. Não há anormalidades, apenas grades que impedem que se enxergue com nitidez tudo aquilo que teimamos em não acreditar. É como um espelho sujo do qual esquecemos de limpar por pura preguiça.